Matemática Humanística
Artigo: PAZ, EDUCAÇÃO MATEMÁTICA E
ETNOMATEMÁTICA* por Ubiratan D’Ambrosio
“Como um Educador
Matemático eu me vejo como um educador que tem Matemática como sua área de
competência e seu instrumento de ação, não como um matemático que utiliza a
Educação para a divulgação de habilidades e competências matemáticas. Como
Educador Matemático procuro utilizar aquilo que aprendi como Matemático para
realizar minha missão de Educador. Minha ciência e meu conhecimento estão
subordinados ao meu humanismo.”
“O que justifica o
papel central das ideias matemáticas em todas as civilizações [etnomatemáticas]
é o fato de ela fornecer os instrumentos intelectuais para lidar com situações
novas e definir estratégias de ação. Portanto a etnomatemática do indígena
serve, é eficiente e adequada para as coisas daquele contexto cultural, naquela
sociedade. Não há porque substituí-la. A etnomatemática do branco serve para
outras coisas, igualmente muito importantes, propostas pela sociedade moderna e
não há como ignorá-la. Pretender que uma seja mais eficiente, mais rigorosa,
enfim melhor que a outra é, se removida do contexto, uma questão falsa e
falsificadora.
O domínio de duas
etnomatemáticas, e possivelmente de outras, obviamente oferece maiores
possibilidades de explicações, de entendimentos, de manejo de situações novas,
de resolução de problemas. É exatamente isso que se faz pesquisa matemática - e
na verdade pesquisa em qualquer outro campo do conhecimento.
O acesso a um maior
número de instrumentos e de técnicas intelectuais dão, quando devidamente
contextualizadas, muito maior capacidade de enfrentar situações e de resolver
problemas novos, de modelar adequadamente uma situação real para, com esses
instrumentos, chegar a uma possível solução ou curso de ação.
Isto é aprendizagem
por excelência, isto é, a capacidade de explicar, de apreender e compreender,
de enfrentar, criticamente, situações novas. Aprender não é o mero domínio de
técnicas, habilidades e nem a memorização de algumas explicações e teorias.
A adoção de uma
nova postura educacional é, na verdade, a busca de um novo paradigma de
educação que substitua o já desgastado ensino-aprendizagem, que é baseado numa
relação obsoleta de causa-efeito. Procura-se uma educação que estimule o
desenvolvimento de criatividade desinibida conduzindo a novas formas de
relações interculturais. Essas relações caracterizam a educação de massa e
proporcionam o espaço adequado para preservar a diversidade e eliminar a
desigualdade discriminatória, dando origem a uma nova organização da sociedade.
Fazer da Matemática uma disciplina que preserve a diversidade e elimine a
desigualdade discriminatória é a proposta maior de uma Matemática Humanística.
A Etnomatemática tem essa característica.”
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